Percebo uma espécie de escrita do interstício, ancorada nos intervalos de um afazer, na pausa de um afeto, como algo de que se lembra ao lavar o rosto, se depilar, beijar a filha, atar um laço, o que resulta em uma sutileza intrigante e álacre, produto da azáfama e do afeto.
É uma poesia atrelada a uma simplicidade traiçoeira, capaz de nos acenar com recados mínimos que nos propõe um desvio da necessidade de nos situar sempre no olho que nos vê e nos cobra aonde ir ou estar; e com imagens de uma quietude ameaçadora.
“toda noite me deito de punhos fechados”.
Texto córrego, escrita de têxtil frescor, como a autora diz num lindo verso:
“um abismo que leva à leveza.”
Cândido Rolim (poeta)