Um brilhante técnico de voleibol disse certa vez que seu sucesso vinha do fato de ele não ter sido um jogador excepcional. Como teve de aprender, com muito esforço, o que parecia natural para os gênios, conseguia, como treinador, ensinar a seus atletas o que eles precisavam fazer para realizar bem cada movimento e jogada.
A vida é bem mais rica e desafiadora que partidas de vôlei. Por isso, um técnico de vida não existe. Mas existem pessoas que conseguiram conquistar a vida de tal forma que têm um caso de amor com ela. E essas pessoas, embora não possam nos treinar, podem nos inspirar.
Marina é uma dessas pessoas. E seu livro é um presente. Nele, ela nos conta que, se ama a vida hoje, foi porque, como aquele técnico, percebeu-se um dia uma jogadora mediana que, para deixar de ser engolida pela vida, precisava se esforçar. E o esforço que a vida exige é humildade e, sobretudo, coragem diante dela.
Talvez seja essa a principal lição que Marina nos ensina, mesmo que ensinar não seja seu objetivo. Ela escreve não para dar lições, mas porque precisa. Escreve para viver. Escrevendo, compreendeu melhor a si. Reconheceu medos, limitações e defeitos, e reuniu forças para superá-los. E, então, pôde enfim se dar o direito de gozar, em todos os sentidos, sem culpa. Liberdade para sentir prazer em viver, eis a recompensa da humildade e da coragem diante da vida.
Seguir Marina em sua jornada, aviso, é muitas vezes doloroso, como dolorosa foi sua vida em vários momentos. Alerto que você acompanhará a dor dela de perder a mãe aos 17 anos, de encarar o medo de uma gravidez solitária no início da juventude e, depois, de passar por uma nova perda, a do amor de sua vida, que parecia ter chegado para deixar tudo tranquilo. A vida não poupa de dores quem aprende a amá-la. Mas, como já disse, embarcar no barquinho de papel com o qual Marina navega seus abismos é, mais que tudo, inspirador. É aprender que viver pode, ou melhor, deve valer a pena.