Em Memórias e Fantasias, Lídio Teles relata histórias de infância vivida na zona rural da região de Valença, baixo sul da Bahia, povoadas de aventuras e desafios. Nesses “causos”, ele descreve a rotina da luta e do enfrentamento da natureza, numa época desprovida de recursos, mas rica em oportunidades de vivência e aprendizado. Sua narrativa envolve o leitor pela estratégia em anunciar o desfecho dos fatos, intercalando com outros eventos que capturam a atenção plena de quem desfrutar da leitura dessas memórias. O cenário bucólico nos convida a penetrar pelas matas, a nadar e a atravessar rios e riachos, em meio a cobras, onças e outras criaturas daquele meio. São peripécias divertidas – sonhos, desejos e medos –, vividas em tempos de regras e de obediência aos chefes de família, guiados por princípios de honestidade, de fé, com costumes locais intocáveis.
Quem se depara com o texto de Lídio se emociona de verdade, porque ele equilibra descrição e narração dos fatos, ao tempo em que oferece uma reflexão sobre eles, criando um jogo entre o real e o imaginário, indispensável ao fazer literário. Exemplos disso, são: o sufoco passado no dia do almoço na casa do tio coroné, juntamente com os detalhes do casarão; as conjecturas no olho da biribeira; a agonia vivida no quarto na última noite na casa do tio; o conformismo com os eventuais encontros fortuitos com Tainah; o capitulo Incômodo final, e a narrativa fantástica no final da corrida de Cavalos na fazenda do cunhado. Legitimando seu trabalho, que deve ser lido, relido e jamais esquecido.